Eu não tenho muitas fotos dela e as poucas que tenho já ganharam o tom amarelado do tempo. A primavera de Vera, minha mãe, foi cortada no verão de 94. Na época em que se revelava um filme de 36 poses de tempo em tempo e as cores já nasciam desbotadas no papel.
Mas na memória, onde as cores sobrevivem, me lembro do alaranjado do céu quando o sol nascia. Ela me carregava no colo todos os dias, às seis da manhã, para que eu pudesse vê-lo aparecer em meio aos altos pinheiros do quintal. Eu achava as cores das nuvens incríveis e não queria perdê-las nenhum dia.
Lembro-me, também, do pé de azaleia cor-de-rosa: era sua flor preferida e ficava no jardim da casa de minha saudosa avó. Ele ainda resiste ao tempo, na casa que agora é de minha tia, embora as folhas também tenham perdido a cor e já não mais floresça como há 20 anos.
Eu não me lembro de ter dado um abraço ou um presente nesse dia que é dela. Quem dirá feito uma homenagem, mas, ainda me lembro do seu rosto, do cabelo preto ondulado com alguns fios grisalhos - eu os herdei - e de seus olhos verdes sempre que ouço a palavra mãe.
Mesmo que eu tenha poucas fotos para mostrar, ainda sobra muita saudade para sentir.
Em tempo, um feliz dia das mães a todas as mamães por aqui.