quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Scripta manent, verba volant


“Aconteceu num [domingo]. O sol já caminhava na metade do seu percurso quando preguiçosamente resolvi sair da cama. Sem coragem de tomar um ônibus para ir à praia, optei ficar em casa e ler. Fui até a instante, sempre abarrotada e sempre empoeirada, querendo um livro que me servisse de companhia naquele dia, que eu supunha sem importância. [O livro de Ricardo Gondim] se sobressaiu; parecia pedir-me que o escolhesse.”

Não imaginam a minha alegria quando cheguei de viagem (era feriado, 07 de setembro) e me deparei com o livro de Ricardo Gondim sobre a mesa da cozinha. Provavelmente, entregue pelo porteiro para alguma de minhas colegas de apartamento. Uma bela fotografia de capa e um título chamativo: “Sem perder a alma”.

E justamente no domingo (visto que meu tempo durante a semana é cada vez mais escasso) sentei-me na sacada e comecei a degustar cada palavra. Como Gondim mesmo me disse: “Um escritor gosta de ter suas obras mastigadas”.

Conheci Ricardo Gondim por meio dos famosos "140 caracteres" e muito identifiquei-me com sua escrita. Encantei-me com suas palavras, com o jeito sutil de observar o mundo, as pessoas e os sentimentos, pelo modo com que brincava com as palavras, como se elas dançassem com graciosidade pela minha “timeline”.

Ao ler “Sem perder a alma”, percebi que Gondim não escreve apenas de forma lacônica como mostra nos 140 caracteres, mas escreve com profundidade e... alma! Ele fala também sobre sua paixão pela escrita e acredita, assim como eu, que “as palavras são fluídas, voláteis, refratárias. Só quem escreve tem permanência.” Talvez seja por isso que, subconscientemente, sempre preferi e-mails a telefonemas. Nunca fui muito de falar, gosto da escrita que me permite reler, me permite corrigir, que fica gravada. Ela é perene enquanto o som da voz é flecha lançada.

Em seu livro fala um pouco de tudo: amor, riqueza, fé, decepção, arrependimento, lições de vida, saudade e diversas outras experiências. E claro, conta como surgiu sua paixão por literatura e escrita. Gondim não fala em Perder a alma no sentido de morrer e ir para o inferno, mas de perderem-se os afetos, a sensibilidade humana e a solidariedade. Verdadeiros bens preciosos.

Quero compartilhar algumas palavras com vocês, e espero que guardem em seus corações como eu as guardei.

“Aprendi a valorizar a fidelidade como uma virtude raríssima; sei ser grato pela mão estendida, sinto-me endividado pelo amor gratuito.”

“Viver me enche de entusiasmo. Não tento mais matar o tempo. Quero sorver a vida com tudo o que ela tiver de bom e de ruim. Como um colecionador de borboletas, procurarei guardar, daqui para frente, todos os meus momentos em estojo de cristal”.

“Amar requer coragem (...) Para que o amor aconteça, as gaiolas devem ser abertas, os cadeados destravados e os caminhos liberados.”

“A grandeza de uma causa não é determinada pelo que seus seguidores ganham ao segui-la, mas pelo preço que estão dispostos a pagar por ela.”

“A gente acaba aprendendo a disfarçar as angústias mais profundas. Bastam algumas sessões fotográficas para o desenho da boca não denunciar qualquer dor e os olhos deixarem de ser janelas da alma.”

“Sinto que Deus ainda vive no sonho das crianças; ainda habita onde reside a musa do poeta; ainda se revela no desejo do profeta; ainda se move além do horizonte utópico do guerreiro.”

“Minha saudade é incontrolável; sabota os fossos mais resistentes do coração. Faz metáfora do tudo; busca trazer à tona a vida submergida.”

“Quando parecer melancólico, com um olhar triste, não se espante. Estou com saudade”.

“...aprendi que a maioria das pessoas não teme morrer, mas se apavora em não saber viver.”

“Não adianta querer sonhar a mesma coisa duas noites seguidas. O sexo de ontem não será igual ao de amanhã. A onda do mar nunca retorna como era; o rio morre a cada instante.”

“A beleza das cores, o prazer do vinho, a alegria do amor têm data marcada para terminar. A vida é efêmera.”

“Sem porto para atracar, faço da vida um sempre por navegar, pois viver não é preciso.”

“A felicidade só tem permanência da memória, somos felizes à medida que guardamos o que um dia nos marcou. Não passa de cheiros que lembram pessoas e lugares inesquecíveis; é um de já vu que ressuscita eventos submersos.”

“O próximo tanto pode ser fonte de alegria, como de frustrações. Quem tenta isolar-se para não passar decepções, empobrece.”

“Todos devem ansiar por amabilidade. Por isso, devem ser menos empreendedores e mais sensíveis, menos paladinos e mais solícitos.”

“Amizades superficiais são mais danosas para o espírito do que inimizades explícitas.”

“O poder nos torna arrogantes, frios, duros e inclementes. Somente a fragilidade nos torna dóceis, amáveis e de fácil relacionamento.”

“Quem tenta blindar-se das tristezas precisa também se proteger da alegria. Fugir do sofrimento significa amortecer a felicidade”.

“Relutamos com a consciência de que a todo instante o passado cresce e o futuro diminui.”

Gostaram? Verão muitas outras, maravilhosas, em seu twitter: @GondimRicardo. E não preciso nem dizer que "Sem perder a alma" é altamente recomendável para quem gosta de pensar.

5 comentários:

Wesley Souza disse...

Eu não esperava menos.. Me parece parte de textos que escuto semanalmente na Betesda!
Amo essa proposta de vida!

J.a.s disse...

Que legal , me gostaria leerlo
,isso sim quando logre entender el 100 % de portugues hehe
Saludos Karìn

Thaís Machado disse...

Sua sensibilidade é que traz a nós, leitores, reflexões lindas. Sejam por meio de suas palavras ou de outros autores... Obrigada!

Thundera disse...

Gondinejando! Lindo! Não seria pra menos!:)

Daniela Costa disse...

Belas reflexões, nos fazem pensar e refletir melhor sobre a vida. Assim que possível, lerei o livro.
Bjs!