domingo, 29 de agosto de 2010

A felicidade mais simples


Eu estava entristecida há alguns dias, e nem sabia exatamente o porquê. Não chegava a ser pungente, mas uma tristezinha de papel fino, dessas que envolvem os nossos pensamentos. Você deve saber do que estou falando.

Acho que nossas angústias geralmente estão ligadas às perdas: nos apegamos demais às coisas, ao tempo, às pessoas. Esquecemos que as coisas se acabam, o tempo passa, e as pessoas se vão. E as pessoas que se vão, ah... Muitas vezes deixam marcas irreparáveis.

Em dias assim gosto de ir a lugares que me inspirem, para sentar, refletir, observar tudo a minha volta. Sempre fui uma dessas pessoas que gostam de olhar o pôr-do-sol, sentir o vento, a chuva, mas eu gostava de fazer isso com “ele”... Já dizia Drummond que de “mãos dadas” tudo pode ficar mais bonito.

Acredito que uma bela paisagem não tem muito sentido quando não pode ser compartilhada, talvez seja como possuir um belo quadro e guardá-lo dentro do armário, só para você mesmo vê-lo.

Mas eu não queria lembranças e sabia que enquanto não praticasse a "arte do desapego" e aprendesse a encantar-se com as pequenas coisas, ficaria impraticável atravessar os dias. Comecei então a procurar sorrisos, para descobrir o que fazia cada uma daquelas pessoas felizes.

Observei por um bom tempo uma mulher de aproximadamente 40 anos, que aprendia a andar de bicicleta. Ao errar e quase cair, ela sorria, meio sem jeito, talvez com vergonha das pessoas que caminhavam naquela travessa. Sua felicidade era quando conseguia pedalar alguns metros. E isso eu via no brilho dos olhos dela.

Uma criança descalça, na beira do rio. Olhava para os seus pés e divertia-se com a sensação do chão crescer macio sob eles... Não se importava em sujar a barra da calça, só queria ‘sentir’. Outra garotinha saboreava um algodão doce e, com uma olhar inocente, brincava com a leveza do açucar em forma de nuvem. Aliás, acho mesmo que as crianças sejam mais felizes que nós: são puras, podem enxergar a felicidade nas pequenas coisas, como alimentar os pombos ou soltar pipas.

E quanto a nós? Vamos depender de “outro” para contemplar o belo? Vamos esperar pelo “outro” para ser feliz? Esperar o inverno passar? Cada um pode encontrar, todos os dias, algo que desperte sorrisos. Parar para ver a Lua ou ouvir o som da chuva batendo nas folhas. Ler um bom livro embaixo de uma árvore. Escrever um livro. Plantar uma árvore. Você não precisa de alguém para fazer tudo isso.

Cultive agora mesmo a felicidade mais simples, incondicional, que há "aí dentro". Eu, por exemplo, fiquei feliz hoje ao encontrar raras flores de cerejeira. Elas são como os ipês: florescem no inverno, avesso às outras flores que ficam esperando pela Primavera...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O destino que eu quero, eu faço


“O destino conduz os que querem ser conduzidos e arrasta os que
não querem. Eu tenho andado mais ou menos de arrasto,
Nem sempre quero ir para onde o destino me leva."

Você acredita em destino? Sei lá, me deu vontade de escrever um pouco sobre isso. Nas discussões que envolvem o tema a dialética é sempre a mesma: há quem afirme que ele é traçado assim que nascemos e quem acredite que ele é moldado de acordo com as nossas vontades.

Uns preferem não se preocupar, dizendo que o destino não dependerá de suas atitudes para se cumprir. Talvez seja cômodo pensar assim, afinal, para quê lutar por algo se ele não estará no nosso futuro? Outros, têm a certeza de que o destino vai se formando nos momentos de decisão. Hoje eu faço parte do segundo grupo.

Mas acreditei, em boa parte da vida, que o destino fosse aquela coisa bacana, que “pela ordem natural do universo” faz tudo dar certo no final. Assim como nos filmes da Disney e nas novelas do SBT. “Oh, mas o destino fará com que fiquem juntos no final! Ah, está no destino dela ser feliz e ter uma carreira brilhante!”. Se lutarem por isso, sim. Se ficarem a “mercê” do destino e de braços cruzados, jamais.

E ainda há outra vertente: enquanto uns criam os acontecimentos, outros suportam o que acontecem na sua vida atribuindo às causas como sendo impostas pelo destino. É fácil usar o destino como uma “desculpa” para o fracasso, mais fácil que admitir nossas falhas, não é?

Embora eu já tenha causado uma breve discussão no Twitter por causa dessa palavrinha, continuo com minha tese de que destino é a gente que faz. EU decido quem eu quero ser, não o destino. Eu cultivo os amigos que quero, seleciono os livros que eu leio, opto pelos valores que abraço. Vou para onde quero viver.

Destino eu faço quando me levanto do comodismo do meu sonho e vou à luta para torná-lo real, mesmo que eu precise criar o que quero para ser parte daquilo. Caso contrário, o ”livre arbítrio” não teria sentido algum. Desde as minhas mínimas escolhas, todas elas formam o meu destino. O destino que eu quero.

Como diria Jack Welch: "Controle o seu destino ou alguém controlará." E você? Quer ser dono do seu destino?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

[Des]amor moderno


O amor está com a data de validade vencida. Se não, está pra vencer. Os casais cada vez mais pensam no “eu” e se esquecem do “nós”. Cobram por amor “full time”, mas não estão dispostos a doar-se inteiramente por esse mesmo amor que esperam. Querem o “feedback” da atenção que não dão.

Companheirismo, paciência e tolerância com os defeitos do parceiro não têm mais espaço. Cederam seus lugares ao desejo de um “amor mercadológico” e instantâneo: tenho tudo o que quero, experimento, uso, jogo fora ou troco por um modelo melhor na hora que eu quiser. Os aplicativos de pegação estão aí: é “delivery de amor”, 24 horas.

Tem relacionamento que segue a linha “fast-food”. Isso mesmo: comida rápida. Muitas vezes cobram a lealdade do parceiro, mas não querem prender-se a uma única pessoa já que há tanta oferta barata por aí. E tão barata e fácil, que aquele belo “amor à primeira vista” já deu lugar ao “amor a prazo”.
Sim, e o prazo é curtíssimo: é quase um amor descartável, encontrado aos montes por “search” nas redes sociais. Ganha quem conseguir o maior “time per person”, não necessariamente nessa ordem. Tem gente que quer ser “freela” quando o assunto é amor.

A casa vira uma empresa, o casamento um bem de consumo. E dependendo da sua sorte você fica com os bens. A Lei até facilitou o divórcio. Devem estar prevendo que amor se tornará uma instituição falida.

Alias, alguém falou de amor? Em breve, uma nova reforma ortográfica vai eliminar de vez esse vocábulo de livros e dicionários. E as declarações de amor? Se já não foram extintas, serão tão raras e rápidas que vão ser dignas de “retweet”.

O “deadline” do amor está próximo. De repente, a modernidade abriu um notável espaço para o desamor. Melhor ficar em modo “stand by”.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Além da Democracia...

"Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um."

Este não é o tipo de texto que costumo postar aqui e tampouco pretendo começar a falar sobre política no meu blog. É apenas uma exceção devido à fase que atravessamos. O fragmento que segue abaixo da breve introdução (O voo 0666) é de autoria de Rubem Alves, e retirei de um de seus livros que li há pouco.

Mais do que defender a “democracia” e o candidato que você escolheu, é importante estar atento, saber avaliar quem realmente está preparado e tem competência para governar o país. E tentar fazer do Brasil um lugar melhor é compromisso que deve sobrelevar a “fidelidade partidária”.

Acho que a democracia perde um pouco o sentido quando passa a contabilizar mais pessoas disputando quem tem o melhor candidato do que pleiteando seus verdadeiros ideais. Competência para comandar um país vai muito além de um nome e/ou uma sigla.

É preciso cultura, conhecimento, pulso. Às vezes acho necessário, e até inteligente, ignorar o que dizem as pesquisas, afinal, “seguir a boiada” nem sempre é a atitude mais sensata. É preciso pensar com a própria cabeça: abandonar o comodismo, ser curioso, pesquisar, investigar.

Nesses meses que antecedem as eleições é bom inferir sobre nossa liberdade eleitoral, estar por dentro de tudo o que acontece, com todos os candidatos. Que esse pequeno texto o leve a uma breve reflexão e o ajude a fazer a escolha certa. Porque quem reflete pouco, acaba errando muito.

O voo 0666
“Senhores passageiros do voo 0666, Paris-São Paulo, da TARIG, linhas aéreas democráticas”. A voz soou metálica na sala do aeroporto onde os passageiros aguardavam o início do embarque. Cessaram imediatamente as conversas, fez-se silêncio e os passageiros trataram de prestar atenção nas instruções que se seguiram. A voz continuou: “A TARIG, linhas aéreas democráticas, no esforço para democratizar os seus serviços, avisa os senhores passageiros que dentro de alguns minutos terá início uma assembleia livre soberana para a escolha democrática do piloto que comandará o voo Paris-São Paulo.

Os candidatos poderão se inscrever no balcão da empresa devendo, para isso, preencher as seguintes condições: (1) ser maior de idade; (2) dar prova de ser capaz de assinar o nome”. Fez-se um grande silêncio na sala de embarque. Os passageiros, olharam uns para os outros, incrédulos, pegaram suas bolsas, pastas e mochilas e em silêncio deixaram vazia a sala da TARIG, linhas aéreas democráticas, e foram em busca de uma linha aérea que, sem ser democrática, fosse inteligente e que escolhesse seus pilotos por competência e não por voto da maioria.

domingo, 1 de agosto de 2010

“No meio do espinho tinha uma rosa, tinha uma rosa no meio do espinho"


Sim, lhe é familiar essa frase. É inegável que a poesia de Drummond marca de alguma forma a vida de quem conhece sua originalidade. Em “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”, Drummond expressa situações de dificuldade, impasse, de “impedimentos” que nos surpreendem em nossa caminhada. São obstáculos que enfrentamos e, de alguma forma, acabam deixando cicatrizes, que nem o tempo apaga... “Nunca me esquecerei que no meio do caminho, tinha uma pedra”.

Quando observei e fotografei essa pequena rosa, em meio a tantos espinhos, o poema de Drummond me veio à mente... Assim como nos deparamos, frequentemente, com pedras em nosso caminho, é comum defrontar-nos com os “espinhos” das “rosas” que cercam o jardim de nossas vidas... As fraquezas daqueles que estão ao nosso lado. É preciso saber conviver com esses espinhos e extrair apenas o “perfume”, a essência, o que cada um tem de melhor, mesmo porque somos dotados tanto de virtudes quanto de defeitos. Somos flores entre espinhos, assim como temos pedras pelo nosso caminho... É preciso aceitar, para ser aceito. Quebrar pedras e cuidar das flores...