sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz 2011!


É hora de despedir-se de mais um ano: tem um novinho pronto para nascer.

É hora de celebrar as amizades firmadas durante 2010, comemorar as vitórias conquistadas, os obstáculos vencidos. Relembrar-se dos aprendizados.

É hora de planejar os próximos passos, ou quem sabe recomeçar do zero, se preciso for.

Não faça lista de boas intenções para guardá-las na gaveta, nem chore de arrependimento pelas besteiras consumadas.

Alegre-se pelas coisas boas. E prometa a si mesmo sorrir mais, amar mais – mesmo com todos os riscos que isso acarreta – e a respeitar mais.

Sonhe e acredite que suas realizações dependem exclusivamente de você. Dê mais valor às coisas simples, goste mais de si mesmo. Saiba perdoar e recomeçar, afinal o tempo passa muito rápido.

Não olhe muito para o passado, nem viva de fotografias amareladas. Aproveite o presente e seja feliz, porque os melhores momentos da vida podem ser relembrados, mas nunca revividos.

E lute: pois para que um ano seja realmente novo e cheio de boas mudanças, você deve merecê-lo.

Desejo um feliz Ano Novo para todos vocês!



Karina Perussi

sábado, 6 de novembro de 2010

O silêncio...


Por que cobram tantas palavras, a todo instante? Falar muito deveria ser uma regra? Há quem fale muito para que o silêncio não revele o essencial.

É que silêncios são confissões: às vezes assustam. Dizem muito, revelam, machucam, desesperam. Apenas alguns aliviam. Silêncio é palavra não dita. Mas inegável: mais fácil arrepender-se de uma palavra que de um silêncio. E contra esse fato não há argumentos – nem mesmo palavras.

Acredito que o segredo da comunicação está, antes de tudo, em saber ouvir: ideias, valores, anseios, desejos.

Palavras são promessas nem sempre cumpridas. Atos são mais sinceros, revelam o que o coração não diz.

É no silêncio que ouvimos nosso interior, ao mesmo tempo em que voltamos nossos olhos ao outro e os tiramos do nosso egoísmo.

O silêncio nos leva a flutuar entre melodias, ouvir estrelas, contemplar verdadeiramente o belo. Enxergar o mundo. Nego o desestimo as palavras, mas em momentos em que os olhos são capazes de falar, elas tornam-se desnecessárias.

Às vezes, vale uma velha frase: "Ao dizer alguma coisa, cuide para que suas palavras não sejam piores que o seu silêncio."


domingo, 26 de setembro de 2010

Não perca seu tempo


"Não perca seu tempo. A vida é o trem que passa, não a estação que para"

Ei, você, que tem 20 e poucos anos. Ou 30, não importa. Os anos deveriam ser contados pela maneira como os vivemos e não pela data cronológica que o calendário impõe. Eu queria falar para você não perder tempo.

Não perca tempo sofrendo porque aquela pessoa, que você diz ser perfeita, nem olha para você. Isso prova que ela está bem longe de ser.
Chore, se perdeu um amor ou um ente querido. Mas chore pelo tempo certo, depois é preciso viver.

Não ignore os conselhos que recebe, um dia você pode precisar deles. Ouça os mais experientes.

Não perca muito tempo pensando em seu futuro financeiro, gaste: o futuro é incerto. Não deixe de comprar aquela roupa que é o seu sonho de consumo ou de viajar para a praia dos seus sonhos.
Sonhe: mas não perca muito tempo sonhando, pois só quando acordamos é que realizamos. É preciso sonhar, mas é obrigatório viver.

Não perca tempo com dieta. Coma chocolate e beba Coca-Cola ‘não-diet’. Se realmente estiver incomodado com seu peso, entre numa academia.
Não perca tantos sábados em casa: diga mais “sim” aos convites que recebe. Talvez você não possa fazer isso daqui a alguns anos.

Está entediado neste domingo? Aproveite e leia mais: é viajar sem ter que sair de casa.
Não se apegue aos seus pequenos problemas nem se apequene diante da indiferença de alguns. Problemas existem para serem resolvidos e a indiferença serve para mostrar que não devemos perder tempo com algumas pessoas, afinal, há bilhões no universo.

Acredite no amor, mas não o espere. Quando estamos à espera de alguma coisa ou de alguém, o tempo da espera parece interminável.
Não perca tempo com raiva, troque a cara franzida por um sincero sorriso. Aparentemente, você envelhecerá bem menos. Aproveite a melhor idade da sua vida.

Não importa se você levou um fora, se sua amiga te deu um “bolo”, se o dinheiro está cada vez mais curto. Amanhã e sempre tudo pode mudar.
Preste mais atenção no que há de belo: o mar, a Lua, as estrelas. Com o tempo você terá a consciência de que nem as jóias mais caras podem fazer alguém mais feliz do que essas pequenas grandes coisas.

Não perca tempo com pessoas “pequenas”, que não mudam e nem evoluem: talvez seja a lição do “atraso e espera” que elas tenham que aprender.
“Sinta” uma bela música com intensidade, até que ela arranque algumas lágrimas dos seus olhos. É a prova de que somos seres dotados de emoção.

Não olhe seus “defeitos” quando se deparar com seu espelho. Enumere suas qualidades e não se esqueça que o que há de mais belo, como disse Exupéry, não é visível aos nossos olhos.
Não perca seu tempo pensando o que os outros acham de você. O que importa é o que você realmente é, independente da opinião de quem sabe ou não lhe julgar.

Não perca tempo olhando para o telefone. Tire-o do gancho, ligue.
Não perca tempo acreditando em sorte e azar. Tudo tem 50% de chance de dar certo, ou não. Pense, mas não se perca em pensamentos antes de tomar decisões.
Não perca tempo, essa idade passa muito rápido, a vida passa cada vez mais depressa. E a sua única obrigação durante esse tempo é ser feliz.

Não perca oportunidades, não deixe passar nenhum momento mágico, valorize cada segundo. Eu não posso ir até aí e te dar um ‘chacoalhão’, dizendo: aproveite essa vida agora, você não terá outra”. Mas, eu espero que daqui alguns, anos eu não ouça de você um “eu não fiz tudo o que eu queria".

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Janelas


Abertas, cheias de esperança
Fechadas, apenas janelas
Por elas vemos o mundo
O cotidiano é revelado por elas
Janelas que escondem dores
Janelas que presenciam amores
Janelas
Como será por trás delas?
Janelas que revelam
Outras que ocultam
Janelas que nos libertam
Janelas que nos esperam
Janelas
Debruçamos e sonhamos nelas
Janelas que se fecham à noite
A vida é cheia delas
Janelas que se abrem como livros
Janelas que contam histórias
Janelas modernas, outras antigas
Janelas que iluminam
Janelas que silenciam
Janelas que espiam
Janelas,
A luz do sol entra por elas
Janelas da nossa alma,
Como seria sem elas?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Scripta manent, verba volant


“Aconteceu num [domingo]. O sol já caminhava na metade do seu percurso quando preguiçosamente resolvi sair da cama. Sem coragem de tomar um ônibus para ir à praia, optei ficar em casa e ler. Fui até a instante, sempre abarrotada e sempre empoeirada, querendo um livro que me servisse de companhia naquele dia, que eu supunha sem importância. [O livro de Ricardo Gondim] se sobressaiu; parecia pedir-me que o escolhesse.”

Não imaginam a minha alegria quando cheguei de viagem (era feriado, 07 de setembro) e me deparei com o livro de Ricardo Gondim sobre a mesa da cozinha. Provavelmente, entregue pelo porteiro para alguma de minhas colegas de apartamento. Uma bela fotografia de capa e um título chamativo: “Sem perder a alma”.

E justamente no domingo (visto que meu tempo durante a semana é cada vez mais escasso) sentei-me na sacada e comecei a degustar cada palavra. Como Gondim mesmo me disse: “Um escritor gosta de ter suas obras mastigadas”.

Conheci Ricardo Gondim por meio dos famosos "140 caracteres" e muito identifiquei-me com sua escrita. Encantei-me com suas palavras, com o jeito sutil de observar o mundo, as pessoas e os sentimentos, pelo modo com que brincava com as palavras, como se elas dançassem com graciosidade pela minha “timeline”.

Ao ler “Sem perder a alma”, percebi que Gondim não escreve apenas de forma lacônica como mostra nos 140 caracteres, mas escreve com profundidade e... alma! Ele fala também sobre sua paixão pela escrita e acredita, assim como eu, que “as palavras são fluídas, voláteis, refratárias. Só quem escreve tem permanência.” Talvez seja por isso que, subconscientemente, sempre preferi e-mails a telefonemas. Nunca fui muito de falar, gosto da escrita que me permite reler, me permite corrigir, que fica gravada. Ela é perene enquanto o som da voz é flecha lançada.

Em seu livro fala um pouco de tudo: amor, riqueza, fé, decepção, arrependimento, lições de vida, saudade e diversas outras experiências. E claro, conta como surgiu sua paixão por literatura e escrita. Gondim não fala em Perder a alma no sentido de morrer e ir para o inferno, mas de perderem-se os afetos, a sensibilidade humana e a solidariedade. Verdadeiros bens preciosos.

Quero compartilhar algumas palavras com vocês, e espero que guardem em seus corações como eu as guardei.

“Aprendi a valorizar a fidelidade como uma virtude raríssima; sei ser grato pela mão estendida, sinto-me endividado pelo amor gratuito.”

“Viver me enche de entusiasmo. Não tento mais matar o tempo. Quero sorver a vida com tudo o que ela tiver de bom e de ruim. Como um colecionador de borboletas, procurarei guardar, daqui para frente, todos os meus momentos em estojo de cristal”.

“Amar requer coragem (...) Para que o amor aconteça, as gaiolas devem ser abertas, os cadeados destravados e os caminhos liberados.”

“A grandeza de uma causa não é determinada pelo que seus seguidores ganham ao segui-la, mas pelo preço que estão dispostos a pagar por ela.”

“A gente acaba aprendendo a disfarçar as angústias mais profundas. Bastam algumas sessões fotográficas para o desenho da boca não denunciar qualquer dor e os olhos deixarem de ser janelas da alma.”

“Sinto que Deus ainda vive no sonho das crianças; ainda habita onde reside a musa do poeta; ainda se revela no desejo do profeta; ainda se move além do horizonte utópico do guerreiro.”

“Minha saudade é incontrolável; sabota os fossos mais resistentes do coração. Faz metáfora do tudo; busca trazer à tona a vida submergida.”

“Quando parecer melancólico, com um olhar triste, não se espante. Estou com saudade”.

“...aprendi que a maioria das pessoas não teme morrer, mas se apavora em não saber viver.”

“Não adianta querer sonhar a mesma coisa duas noites seguidas. O sexo de ontem não será igual ao de amanhã. A onda do mar nunca retorna como era; o rio morre a cada instante.”

“A beleza das cores, o prazer do vinho, a alegria do amor têm data marcada para terminar. A vida é efêmera.”

“Sem porto para atracar, faço da vida um sempre por navegar, pois viver não é preciso.”

“A felicidade só tem permanência da memória, somos felizes à medida que guardamos o que um dia nos marcou. Não passa de cheiros que lembram pessoas e lugares inesquecíveis; é um de já vu que ressuscita eventos submersos.”

“O próximo tanto pode ser fonte de alegria, como de frustrações. Quem tenta isolar-se para não passar decepções, empobrece.”

“Todos devem ansiar por amabilidade. Por isso, devem ser menos empreendedores e mais sensíveis, menos paladinos e mais solícitos.”

“Amizades superficiais são mais danosas para o espírito do que inimizades explícitas.”

“O poder nos torna arrogantes, frios, duros e inclementes. Somente a fragilidade nos torna dóceis, amáveis e de fácil relacionamento.”

“Quem tenta blindar-se das tristezas precisa também se proteger da alegria. Fugir do sofrimento significa amortecer a felicidade”.

“Relutamos com a consciência de que a todo instante o passado cresce e o futuro diminui.”

Gostaram? Verão muitas outras, maravilhosas, em seu twitter: @GondimRicardo. E não preciso nem dizer que "Sem perder a alma" é altamente recomendável para quem gosta de pensar.

domingo, 29 de agosto de 2010

A felicidade mais simples


Eu estava entristecida há alguns dias, e nem sabia exatamente o porquê. Não chegava a ser pungente, mas uma tristezinha de papel fino, dessas que envolvem os nossos pensamentos. Você deve saber do que estou falando.

Acho que nossas angústias geralmente estão ligadas às perdas: nos apegamos demais às coisas, ao tempo, às pessoas. Esquecemos que as coisas se acabam, o tempo passa, e as pessoas se vão. E as pessoas que se vão, ah... Muitas vezes deixam marcas irreparáveis.

Em dias assim gosto de ir a lugares que me inspirem, para sentar, refletir, observar tudo a minha volta. Sempre fui uma dessas pessoas que gostam de olhar o pôr-do-sol, sentir o vento, a chuva, mas eu gostava de fazer isso com “ele”... Já dizia Drummond que de “mãos dadas” tudo pode ficar mais bonito.

Acredito que uma bela paisagem não tem muito sentido quando não pode ser compartilhada, talvez seja como possuir um belo quadro e guardá-lo dentro do armário, só para você mesmo vê-lo.

Mas eu não queria lembranças e sabia que enquanto não praticasse a "arte do desapego" e aprendesse a encantar-se com as pequenas coisas, ficaria impraticável atravessar os dias. Comecei então a procurar sorrisos, para descobrir o que fazia cada uma daquelas pessoas felizes.

Observei por um bom tempo uma mulher de aproximadamente 40 anos, que aprendia a andar de bicicleta. Ao errar e quase cair, ela sorria, meio sem jeito, talvez com vergonha das pessoas que caminhavam naquela travessa. Sua felicidade era quando conseguia pedalar alguns metros. E isso eu via no brilho dos olhos dela.

Uma criança descalça, na beira do rio. Olhava para os seus pés e divertia-se com a sensação do chão crescer macio sob eles... Não se importava em sujar a barra da calça, só queria ‘sentir’. Outra garotinha saboreava um algodão doce e, com uma olhar inocente, brincava com a leveza do açucar em forma de nuvem. Aliás, acho mesmo que as crianças sejam mais felizes que nós: são puras, podem enxergar a felicidade nas pequenas coisas, como alimentar os pombos ou soltar pipas.

E quanto a nós? Vamos depender de “outro” para contemplar o belo? Vamos esperar pelo “outro” para ser feliz? Esperar o inverno passar? Cada um pode encontrar, todos os dias, algo que desperte sorrisos. Parar para ver a Lua ou ouvir o som da chuva batendo nas folhas. Ler um bom livro embaixo de uma árvore. Escrever um livro. Plantar uma árvore. Você não precisa de alguém para fazer tudo isso.

Cultive agora mesmo a felicidade mais simples, incondicional, que há "aí dentro". Eu, por exemplo, fiquei feliz hoje ao encontrar raras flores de cerejeira. Elas são como os ipês: florescem no inverno, avesso às outras flores que ficam esperando pela Primavera...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O destino que eu quero, eu faço


“O destino conduz os que querem ser conduzidos e arrasta os que
não querem. Eu tenho andado mais ou menos de arrasto,
Nem sempre quero ir para onde o destino me leva."

Você acredita em destino? Sei lá, me deu vontade de escrever um pouco sobre isso. Nas discussões que envolvem o tema a dialética é sempre a mesma: há quem afirme que ele é traçado assim que nascemos e quem acredite que ele é moldado de acordo com as nossas vontades.

Uns preferem não se preocupar, dizendo que o destino não dependerá de suas atitudes para se cumprir. Talvez seja cômodo pensar assim, afinal, para quê lutar por algo se ele não estará no nosso futuro? Outros, têm a certeza de que o destino vai se formando nos momentos de decisão. Hoje eu faço parte do segundo grupo.

Mas acreditei, em boa parte da vida, que o destino fosse aquela coisa bacana, que “pela ordem natural do universo” faz tudo dar certo no final. Assim como nos filmes da Disney e nas novelas do SBT. “Oh, mas o destino fará com que fiquem juntos no final! Ah, está no destino dela ser feliz e ter uma carreira brilhante!”. Se lutarem por isso, sim. Se ficarem a “mercê” do destino e de braços cruzados, jamais.

E ainda há outra vertente: enquanto uns criam os acontecimentos, outros suportam o que acontecem na sua vida atribuindo às causas como sendo impostas pelo destino. É fácil usar o destino como uma “desculpa” para o fracasso, mais fácil que admitir nossas falhas, não é?

Embora eu já tenha causado uma breve discussão no Twitter por causa dessa palavrinha, continuo com minha tese de que destino é a gente que faz. EU decido quem eu quero ser, não o destino. Eu cultivo os amigos que quero, seleciono os livros que eu leio, opto pelos valores que abraço. Vou para onde quero viver.

Destino eu faço quando me levanto do comodismo do meu sonho e vou à luta para torná-lo real, mesmo que eu precise criar o que quero para ser parte daquilo. Caso contrário, o ”livre arbítrio” não teria sentido algum. Desde as minhas mínimas escolhas, todas elas formam o meu destino. O destino que eu quero.

Como diria Jack Welch: "Controle o seu destino ou alguém controlará." E você? Quer ser dono do seu destino?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

[Des]amor moderno


O amor está com a data de validade vencida. Se não, está pra vencer. Os casais cada vez mais pensam no “eu” e se esquecem do “nós”. Cobram por amor “full time”, mas não estão dispostos a doar-se inteiramente por esse mesmo amor que esperam. Querem o “feedback” da atenção que não dão.

Companheirismo, paciência e tolerância com os defeitos do parceiro não têm mais espaço. Cederam seus lugares ao desejo de um “amor mercadológico” e instantâneo: tenho tudo o que quero, experimento, uso, jogo fora ou troco por um modelo melhor na hora que eu quiser. Os aplicativos de pegação estão aí: é “delivery de amor”, 24 horas.

Tem relacionamento que segue a linha “fast-food”. Isso mesmo: comida rápida. Muitas vezes cobram a lealdade do parceiro, mas não querem prender-se a uma única pessoa já que há tanta oferta barata por aí. E tão barata e fácil, que aquele belo “amor à primeira vista” já deu lugar ao “amor a prazo”.
Sim, e o prazo é curtíssimo: é quase um amor descartável, encontrado aos montes por “search” nas redes sociais. Ganha quem conseguir o maior “time per person”, não necessariamente nessa ordem. Tem gente que quer ser “freela” quando o assunto é amor.

A casa vira uma empresa, o casamento um bem de consumo. E dependendo da sua sorte você fica com os bens. A Lei até facilitou o divórcio. Devem estar prevendo que amor se tornará uma instituição falida.

Alias, alguém falou de amor? Em breve, uma nova reforma ortográfica vai eliminar de vez esse vocábulo de livros e dicionários. E as declarações de amor? Se já não foram extintas, serão tão raras e rápidas que vão ser dignas de “retweet”.

O “deadline” do amor está próximo. De repente, a modernidade abriu um notável espaço para o desamor. Melhor ficar em modo “stand by”.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Além da Democracia...

"Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um."

Este não é o tipo de texto que costumo postar aqui e tampouco pretendo começar a falar sobre política no meu blog. É apenas uma exceção devido à fase que atravessamos. O fragmento que segue abaixo da breve introdução (O voo 0666) é de autoria de Rubem Alves, e retirei de um de seus livros que li há pouco.

Mais do que defender a “democracia” e o candidato que você escolheu, é importante estar atento, saber avaliar quem realmente está preparado e tem competência para governar o país. E tentar fazer do Brasil um lugar melhor é compromisso que deve sobrelevar a “fidelidade partidária”.

Acho que a democracia perde um pouco o sentido quando passa a contabilizar mais pessoas disputando quem tem o melhor candidato do que pleiteando seus verdadeiros ideais. Competência para comandar um país vai muito além de um nome e/ou uma sigla.

É preciso cultura, conhecimento, pulso. Às vezes acho necessário, e até inteligente, ignorar o que dizem as pesquisas, afinal, “seguir a boiada” nem sempre é a atitude mais sensata. É preciso pensar com a própria cabeça: abandonar o comodismo, ser curioso, pesquisar, investigar.

Nesses meses que antecedem as eleições é bom inferir sobre nossa liberdade eleitoral, estar por dentro de tudo o que acontece, com todos os candidatos. Que esse pequeno texto o leve a uma breve reflexão e o ajude a fazer a escolha certa. Porque quem reflete pouco, acaba errando muito.

O voo 0666
“Senhores passageiros do voo 0666, Paris-São Paulo, da TARIG, linhas aéreas democráticas”. A voz soou metálica na sala do aeroporto onde os passageiros aguardavam o início do embarque. Cessaram imediatamente as conversas, fez-se silêncio e os passageiros trataram de prestar atenção nas instruções que se seguiram. A voz continuou: “A TARIG, linhas aéreas democráticas, no esforço para democratizar os seus serviços, avisa os senhores passageiros que dentro de alguns minutos terá início uma assembleia livre soberana para a escolha democrática do piloto que comandará o voo Paris-São Paulo.

Os candidatos poderão se inscrever no balcão da empresa devendo, para isso, preencher as seguintes condições: (1) ser maior de idade; (2) dar prova de ser capaz de assinar o nome”. Fez-se um grande silêncio na sala de embarque. Os passageiros, olharam uns para os outros, incrédulos, pegaram suas bolsas, pastas e mochilas e em silêncio deixaram vazia a sala da TARIG, linhas aéreas democráticas, e foram em busca de uma linha aérea que, sem ser democrática, fosse inteligente e que escolhesse seus pilotos por competência e não por voto da maioria.

domingo, 1 de agosto de 2010

“No meio do espinho tinha uma rosa, tinha uma rosa no meio do espinho"


Sim, lhe é familiar essa frase. É inegável que a poesia de Drummond marca de alguma forma a vida de quem conhece sua originalidade. Em “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”, Drummond expressa situações de dificuldade, impasse, de “impedimentos” que nos surpreendem em nossa caminhada. São obstáculos que enfrentamos e, de alguma forma, acabam deixando cicatrizes, que nem o tempo apaga... “Nunca me esquecerei que no meio do caminho, tinha uma pedra”.

Quando observei e fotografei essa pequena rosa, em meio a tantos espinhos, o poema de Drummond me veio à mente... Assim como nos deparamos, frequentemente, com pedras em nosso caminho, é comum defrontar-nos com os “espinhos” das “rosas” que cercam o jardim de nossas vidas... As fraquezas daqueles que estão ao nosso lado. É preciso saber conviver com esses espinhos e extrair apenas o “perfume”, a essência, o que cada um tem de melhor, mesmo porque somos dotados tanto de virtudes quanto de defeitos. Somos flores entre espinhos, assim como temos pedras pelo nosso caminho... É preciso aceitar, para ser aceito. Quebrar pedras e cuidar das flores...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O que restou...


O que ficou de você em mim,
Foi a presença da sua ausência,
As lembranças que o tempo não apagou...
O que ficou de você nesse apartamento,
Foram algumas roupas, que logo serão devolvidas,
Os seus livros, alguns dos quais serão meus,
Aqueles que compramos juntos...
O que ficou foi a falta do seu sorriso nas manhãs.
E suas palavras ecoando na memória...
O que sobrou foi o seu olhar,
impresso na minha mente em preto e branco...
E o que restou do amor,
Foram apenas algumas flores secas,
Guardadas em meio a um livro...
O que ficou foi a vontade do que não foi
E que poderia ter sido...
Ficou a saudade do primeiro encontro,
E o desejo de que ele não houvesse acontecido...
Restou o silêncio das palavras não ditas,
E as estrelas que colamos no teto do quarto,
Algumas caíram quando você se foi...
O que sobrou foram nossos retratos e,
Quando vi uma foto da gente feliz,
Custei a acreditar que fosse real...
Ficaram os nossos erros,
talvez algum indício de perdão...
E então,
Lembrei de que não me preparei
Para a sua vinda,
E nem pude prever sua partida...
E quando você se foi de vez
O que eu poderia fazer?
Ficar com o que restou...
E o que restou fui eu.
E um vazio...
Algumas palavras são apenas lágrimas que foram escritas...

domingo, 11 de julho de 2010

Fotografo porque...

... a ideia do fim me dói.

"De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória."

Observam e me perguntam por que sempre estou com minha máquina fotográfica. Meus amigos sentem-se, muitas vezes, incomodados por eu querer fotografar a todo o momento, principalmente quando os incluo entre as fotos. Alguns até se recusam. Explico.

Penso que tudo o que é belo deve ser imortal. Não suporto - tampouco aceito - a idéia do que é efêmero. Acho que os bons momentos devem ser eternizados. Talvez seja uma espécie de luta contra a morte.

Fotografo um pôr do sol, porque sei que ele nunca será o mesmo embora o sol renasça a cada dia. O céu é sempre belo, mas as nuvens transformam-se constantemente.
Fotografo uma flor, para que ela permaneça com suas cores vivas, mesmo após o tempo que envelhece, que seca, que mata.

Fotografo um sentimento – e sim, é possível fotografar sentimentos – para que continue vivo mesmo com sua efemeridade. Um sorriso, uma lágrima, um abraço. Olhares cheios de amor eternizados em fotos, mesmo que adormecidos dentro dos corações dos amantes. A felicidade que dura um pequeno instante.

Fotografo pessoas. Porque elas se vão, sempre. E fica essa lembrança, apenas.
Fotografo a chuva, a folha molhada, porque as gotas espalhadas uniformemente nunca cairão sobre a mesma superfície em semelhante disposição. É a arte da natureza, diferente a cada dia.
Fotografo momentos, porque também não se repetem com a mesma exatidão, nem com o mesmo sentido.

Fotografo a mim mesma, porque conheço a inexorabilidade do tempo e sei que ele trará inevitáveis rugas à minha face.
Fotografo um rio, pois quando tornar a vê-lo, as águas que correm por ele jamais serão as mesmas.

Fotografo monumentos, que o tempo e a chuva vão corroer, consumindo-os lentamente.
Fotografo as festas que vou. Ao rever as fotos posso ouvir as músicas na minha memória, relembrar de cada pessoa que fez parte da minha vida, mesmo que por apenas algumas horas.
Fotografo a primavera, o outono, o inverno, o verão. Uma eterna metamorfose cíclica. E não sei quantas voltas ainda poderei ver.

Desde que comprei minha primeira câmera, tenho minha vida eternizada. Meus amigos, embora reclamem. Meus amores, embora nem sempre seja tão bom recordá-los, sei que estarão lá, guardados, como prova de que um dia valeu a pena.

Entristeço quando um belo momento passa diante de meus olhos sem que eu tenha uma câmera em mãos. Pois além de querer compartilhá-lo, sei que não é seguro submetê-los apenas ao teste da memória. Porque com o tempo, ela enfraquece.

E quando eu me perguntar para onde foram os dias que eu vivi, a reposta estará em cada página dos álbuns que eu abrir.

Já dizia o poeta que “recordar é viver...”

domingo, 4 de julho de 2010

Na feira de domingo...



Hoje foi dia de feira aqui perto de casa. As feiras aqui em São Paulo se assemelham muito às do interior, exceto pela vastidão dos corredores. Marco presença quase todas as manhãs de domingo, quando consigo acordar sem que o despertador interrompa meus sonhos. Por isso aos finais de semana deixo a janela aberta: para despertar espontaneamente com os raios do sol.

Gosto de ir à feira para saborear os famosos pastéis de vento que, por sinal, aqui são muito bem recheados e trazem o gostinho da minha infância, gostinho familiar de "quero mais". Tanto que até esqueço que me encontro em um “mundo desconhecido”, sozinha em uma cidade gigante como essa, perdida entre tantos rostos.

Mas além dos pastéis, das vozes dos feirantes que se misturam, cada qual oferecendo sua melhor colheita, além da infinidade de cores, cheiros, sabores, além dos cachorros rodeando o “churrasquinho grego”, dos carrinhos atropelando meus pés e dos legumes pisoteados no chão, muita coisa desperta meu olhar curioso.

O vendedor de mel que enfrenta o medo das abelhas para poder oferecê-lo em pequenos gomos, a simpatia dos feirantes que nos abordam com um "bom dia" e nos oferecem o fruto de seus trabalhos, e que com certeza são os melhores publicitários que já conheci: “Olha a abobrinha baratinha, olha o morango fresquinho!” Também a esperança da vendedora de buquês de flores que acredita que levará um pouco mais de amor, sorrisos ou mesmo de reconciliação aos enamorados, e a alegria do vendedor de peixes que se diverte jogando pedrinhas de gelo em seu concorrente. Mas não, não há concorrência! Lá todos são amigos, unidos por um mesmo propósito.

Eu queria falar de todos, mas encerro com o vendedor de garapa que me chamou muito a atenção. Com esforço ele mói cada galho de cana, que aos poucos se transmuta em um líquido tão doce quanto mel. Como se estivesse moendo a rudeza e o amargor da vida para extrair a brandura de um viver adocicado. E em copos de 300 e 500ml acredita que pode espalhar um pouco mais de doçura por aí, a um preço que todos podem pagar... E espalha! Não apenas o sabor doce da cana, mas a ternura de palavras gentis, de um sorriso aberto a cada um que se aproxima de sua barraca.

Em dia de feira parece que tudo fica mais alegre e colorido, apesar da languidez do domingo. Que bom seria se, além de copos de garapa e gomos de mel, vendessem copos de ternura, potes de felicidade, doses de ânimo e pacotinhos de sorrisos. E como isso não é possível, sejamos então como o vendedor de garapa: façamos a nossa parte para adocicar um pouquinho a vida de cada um que cruza nosso caminho pelos corredores da vida!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Escolhendo...


Tenho refletido sobre escolhas. Desde pequenos somos expostos a inúmeras opções, das quais precisamos escolher uma. Apenas uma. E confesso: decisão nunca foi meu ponto forte. E tenho a impressão de que cada fase da vida complica mais. Aliás, convicção.

Tenho saudade de quando o mais difícil era escolher entre o leite com Nescau e o leite com Quick. Quando a dúvida persistia por horas, acabava misturando os dois e até que ficava bom. Depois, escolher entre jogar bola ou andar de bicicleta. Às vezes, ainda era possível intercalar. Por fim, já na escola, tinha que escolher entre sentar com a Juliana ou com a Érica. Era demasiadamente difícil para mim, já que a professora nunca deixava sentar em trio.

E assim sucessivamente: escolher entre as aulas de inglês e as de natação, entre ir ao cinema ou à lanchonete, entre o Leonardo e o Rodrigo, entre fazer um curso técnico ou cursinho. Como foi ficando complicado!

Tive que escolher amizades, atitudes, escolher entre rock e pagode, entre certo ou errado, entre ler ou escrever, escolher entre cabelo loiro ou vermelho (tentei as duas cores de uma vez, mas não deu muito certo), escolher em que – ou em quem – acreditar, escolher entre sonho e realidade. Sim, um dia eu escolhi o sonho, mas a vida insistiu em me jogar com força pra realidade. Descobri, então, que algumas escolhas não dependem exclusivamente de nós.

Cresci, e tive que escolher uma profissão, uma faculdade. Ok, foram algumas tentativas: magistério, desenho industrial, enfermagem. Enfim, me formei em publicidade. E não sei se era isso mesmo. Aliás, era sim. Mas quero mais do que isso. Escolher a cidade. Ah, essa decisão ainda está com o processo em andamento. Na verdade pretendo não demorar mais que um ano para a sentença final. Final, mas nunca irreversível.

Escolher caminhos, pessoas, carreira. Escolher o que realmente queremos para nossa vida. Escolher entre o amor e o trabalho, a distância e o conforto, meu lar e o mundo. Pergunto: por que escolher é tão difícil? Talvez porque toda escolha traz consigo uma perda. Não dá para abraçar o mundo, muito menos saber o que é realmente certo. Eu, mesmo colocando todas as características de cada escolha em uma balança, dificilmente chego à alguma conclusão.

É tentativa e erro. É preciso escolher um caminho e se jogar nele de corpo, alma, vísceras e coração. Se decidir voltar atrás, desde que isso seja possível, não vejo como sinal de fracasso. Fracasso é insistir em uma escolha errada. E errado, é não escolher SER FELIZ.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A insustentável satisfação do ser


A velha impressão de que vivemos a espera de alguma coisa, não se sabe o quê, de alguém, não se sabe quem. A vontade de chegar à algum lugar, quando não há nenhum lugar para ir. Porque pensamos que a vida não pode ser “apenas isso". É a sensação de incompletude, de que algo nos falta para ser feliz, alguma coisa que nos preencha. Mas o quê?

Quando temos um bom emprego, falta-nos o amor, se temos o amor, falta-nos o emprego. Se temos ambos, então nos faltam os filhos, cachorros, amigos. E quando parece que tudo está completo, a surpresa: o amor se desfaz, os filhos se vão, o trabalho torna-se exaustivo. E começa o desassossego. É preciso viajar, trabalhar mais, fazer um curso, mudar de emprego, de mulher, de marido. Ninguém sustenta a satisfação por muito tempo. Quando menos se espera, bate o vazio, a sensação de que tudo está errado. E começamos a incessante busca por aquilo que nem sabemos o que é.

Um amigo, há um tempo atrás, dizia estar infeliz. Motivo: estava desempregado. Dois meses depois começou a trabalhar, tendo um salário razoavelmente bom. Novamente sentiu-se insatisfeito, o que o levou a pedir demissão e partir para um novo emprego que, segundo ele, era perfeito. Mostrou-se uma pessoa feliz durante os dois primeiros meses, quando começou a reclamar a falta de um amor. E se ele encontrasse o amor, certamente ainda lhe faltaria algo, era só questão de tempo.

Gangchen Rinpoche, um curador tibetano, fala sobre este sentimento de incompletude: "Frequentemente, sentimos falta de algo quase imperceptível, algo que não é mental, intelectual. Até mesmo nas situações privilegiadas, em que pensamos estar satisfeitos, logo surge esse sentimento sutil de que algo nos falta. Temos, então, a prova de que a vida material não é suficiente, e saímos em busca de algo mais espiritual. Esse algo que nos falta é encontrar e tocar nosso próprio potencial de paz.”

A expectativa também é um problema. Muitas vezes penso que a insatisfação venha do desejo de esperar que algo externo possa tornar-nos felizes. Uma mudança de cidade, de religião, uma nova aquisição material, talvez um novo namorado(a). Esperamos que, ao realizar todas essas ilusões, nossa vida dê um giro de 360 graus. Engano, claro. Em curto prazo pode parecer que está tudo bem, mas logo, lá está ela: a insatisfação do ser. Falta calmaria ou falta agitação. Falta alguém ou falta solidão. Falta tudo ou sobra demais.

É possível que nossa insatisfação sirva de alavanca aos nossos objetivos, incentivando a busca por novas ideias, por uma vida melhor. Possível, apenas. E às vezes me desespero. Pergunto-me se um dia, afinal, estaremos realmente felizes, completos. Mas parece que não existe vida plena. Talvez, apenas no último suspiro, com a sensação de missão cumprida, de final feliz. Enquanto isso, procuro significados e respostas. Pois soluções, provavelmente eu nunca encontre.

Ah, e quanto ao título do texto, fiz alusão ao livro “A insustentável leveza do ser”, que aborda sobre a leveza e o peso. Excelente livro de Milan Kundera, romancista tcheco, autor de diversas obras memoráveis. Penso que nossa insatisfação seja o “peso” que carregamos junto à vida. De qualquer forma, em ambos os casos, o problema é a própria existência, o problema é "ser".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cidade cinza


Cinza. Da cor da neblina, do sol quando se esconde por trás das nuvens, da poluição. Da cor da tristeza, do frio, do rijo concreto. Sim, da cor de São Paulo. Não tenho nada contra o cinza: ele é indiferente, medíocre. Tanto quanto a indiferença de gente que se evita, que se afasta, que se mata.

Cinza, da cor do metrô de uma cidade inóspita. Da cor da enxurrada que transborda o asfalto. Dos viadutos que engolem as ruas. Cinza, da cor da faca e da bala que correm soltas na sexta, no sábado, no domingo. Todo dia.

O cinza da fumaça do ônibus que atrasa e do trânsito que congestiona. Cinza das estradas, batizadas de avenidas, das pontes pelas quais nem se pode andar.

Cinza, da cor das grades, das pistas, dos fastigiosos muros que separam os vizinhos, os amigos. Todos apartados, tudo cindido. Cinza, como os quadriláteros restritos, onde a felicidade custa caro.

Cinza das ruas abandonadas, escuras, do boteco sujo, que às vezes é banhado por vermelho. Vermelho sangue. Vermelho, como a luz da sirene. E só, porque o resto é tudo cinza. Tudo espanta, amedronta. E às 19h todos fogem para suas casas, e se trancam, e olham o mundo de longe, por uma TV, às vezes branca, preta, e cinza.

Cinza, da cor das pichações desbotadas no topo dos prédios, dos monumentos. Pichações que agridem, que semeiam ódio. Cinza de mofo. Sentimentos mofados, porque para eles nem sempre há espaço. Nem tempo.

Cinza. Da cor do rio que corta a cidade. Da pobreza dos becos. Da cor do “pó” da indiferença, da solidão. Da cor do lixo.

domingo, 16 de maio de 2010

Andy Warhol


Tamanha foi minha frustração quando fui à Pinacoteca prestigiar a exposição de Andy Warhol e não pude fotografar. Emoção ímpar poder ver de perto obras que antes só conhecia por meio dos livros.
Nas paredes da Estação Pinacoteca, diversas frases do precursor da Pop Art, Andy Warhol, que tanto contribuiu com a Publicidade (vocês certamente já viram as reproduções das latas de sopas Campbell e a garrafa de Coca-Cola, criadas por ele). Frases que não encontrei na internet, por mais que “revirasse” todos os sites e blogs que mencionavam o pintor e cineasta estadunidense.
Pois bem, sem fotos, sem frases e não satisfeita, aproveitei o ensejo da Virada Cultural e retornei ao local, justamente para anotá-las pacientemente e poder compartilhar aqui, no meu blog. Eis as que mais me chamaram a atenção:

“A fonte dos problemas das pessoas são suas fantasias. Se você não tivesse fantasias, você não teria problemas, porque você aceitaria qualquer coisa que estivesse na sua frente. Mas aí você não teria romance, porque romance é encontrar sua fantasia em pessoas que não são sua fantasia.”

“O sexo é uma ilusão. O mais excitante é não fazê-lo.”

“Quando pessoas e civilizações se tornam degeneradas e materialistas, elas sempre apontam para sua beleza externa e suas riquezas, e dizem que se o que elas estavam fazendo fosse errado, elas não estariam tão bem, tão ricas e tão bonitas. As pessoas na Bíblia, por exemplo, fizeram exatamente isso quando adoraram o bezerro de ouro, e os gregos também, quando adoraram o corpo humano. Mas beleza e riquezas não têm nada a ver com quão bom você é, é só pensar em todas as beldades que tiveram câncer. E muitos assassinos são bonitos, então isso resolve a questão.”

“A arte Pop pegou o que estava fora e colocou para dentro, pegou o que estava dentro e colocou para fora.”

“Eu preferia permanecer um mistério. Eu não gosto de contar a minha história, e, de qualquer maneira, eu invento uma diferente cada vez que me pedem para contá-la... De qualquer modo, eu não acho que tenho uma imagem, favorável ou desfavorável.”

“Eu acho que todos deveriam ser máquinas. Eu acho que todos deveriam ser como todos.”

A exposição permanece na Pinacoteca, Estação da Luz, até o próximo dia 27. Quem tiver oportunidade, vale a pena conferir!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Rotina não, redação.


Chego de manhã, ligo o computador da agência, e lá está ele, piscando para mim. Sim, aquele traço na página do Word, dizendo incessantemente: escreva, escreva! É o desafio do “papel” em branco de todo dia, de cada novo trabalho, de cada nova ideia que precisa sair da cabeça e ganhar forma por meio de um amontoado de letras.

Você, publicitário, redator, ou mesmo sendo o cara da direção de arte,sabe do que estou falando. Criar. Utilizar a cabeça para outra coisa sem ser para sustentar uma cabeleira vermelha ou sei lá de que cor. Pensar, pensar e... Pensar!

O redator publicitário não pode gostar de rotina. Porque cada dia tem algo novo para fazer, um novo cliente, um novo trabalho, completamente diferente do anterior. Em um mesmo dia, pode ser solicitado a criar um anúncio para uma maternidade e outro para uma funerária. Por isso ele é meio louco, porque precisa sentir um pouco de cada coisa, num só dia, de uma vez.

Além disso, vale lembrar das vezes que ele precisa anunciar um puta produto com apenas uma palavra ou propalar objetos dos quais nem o Google ouviu falar. Ok, exagerei. O Google sabe tudo, embora nem sempre tenha todas as explicações que precisamos. Não é moleza.

Enfrentamos também o problema do “cara da arte”, que sempre tesoura nosso texto para criar um layout “maneiro”. Cada um com o seu problema. Aliás, problema mesmo é criar um título fodástico, digno de uma W/McCann, e não ser aprovado por nosso querido cliente. Queremos morrer. Matar. E nossa ira aumenta quando ele começa a palpitar e transformar nossa “obra de arte” em dejeto sólido não-reciclável. A gente até chora.

Mas, como todo “job” tem suas compensações, a nossa é ouvir de alguém que entende do assunto: seu texto ficou “ducaralho”. E então, junto com a arte, pensamos em expor ele no nosso blog pessoal, porque conhecemos muito bem a imprevisibilidade de cada dia. Sabemos que amanhã esse mesmo cara pode dizer: "ficou uma merda". E a gente tem que aceitar.

domingo, 4 de abril de 2010

Incomplacência


Andei pensando sobre “tempo” e “pessoas”. Duas coisas inevitavelmente passageiras, e cada qual acrescenta e tira um pouco da gente. Queria entender o porquê.
Tempo não é palpável, é quase imperceptível, embora passe rápido. Ele leva seus anos, sua vitalidade, às vezes sua esperança. Traz indesejáveis rugas, mas também maturidade, experiência. Traz e leva amigos, amores, familiares: pessoas.

Pessoas a gente toca, sente, ama ou odeia, odeia e ama ao mesmo tempo. Há pessoas que chegam e acrescentam o que a gente não precisa, uma felicidade exagerada até. Mas quando se vão levam tudo o que a gente tem, e nada nos resta, nem nós a nós mesmos. Talvez deixem uma tristezinha, embrulhando um vazio lá no fundo. Depois de muito tempo, é provável que uma única pessoa possa preencher o vazio deixado pelas outras. Provável.

Tempo e Pessoas. Embora o segundo item seja “palpável”, ambos são impossíveis de segurar: o tempo é vento, pessoas são grãos de areia. Há muito em comum entre eles, bem como o vento leva a areia para longe, as pessoas se afastam com o tempo, são levadas por ele para caminhos distintos. Já tentou apertar um pouco de areia com as mãos? Pouco a pouco os grãos resvalam-se entre os dedos.

E quanto a nós? Também voamos para outras praias, mas nunca esquecemos de onde viemos e dos grãos de areia que já estiveram conosco, em outros caminhos. E como você sabe, as dunas sempre mudam com o vento. Sim, acredito que seja mais ou menos essa a lógica, se houver uma. Daqui pra frente utilizarei essas metáforas, principalmente quando precisar entender que pessoas seguem outros rumos e que o tempo, o tempo é inexorável.

sábado, 3 de abril de 2010

Oração do Chocolate

Chocolate: devoramos toneladas dessa delícia na Páscoa, durante a TPM, quando levamos foras e em diversas outras situações de necessidade, e nem sequer uma oração em agradecimento à ele havia. Pensando nisso, eu, como chocólatra assumida, escrevi esta. Bendito seja, chocolate!

Oração do Chocolate

Chocolate nosso, comida dos céus, santificada seja vossa fórmula, venha a nós e à nossa prateleira, seja Kopenhagen, Garoto ou Nestlé. O Cacau Show de cada dia nos dai hoje, perdoai a nossa gula, assim como nós perdoamos a nossa balança, e não importais com nossas espinhas, mas livrai-nos da TPM. Amém.
Oh! Kinder Ovo cheio de graça com chocolate misto, e de brigadeiro quero várias colheres, bendito é o crocante do vosso ingrediente, Chokito. Santo Alpino ou chocolate diet venha a nós, comedores, agora e na hora de nossa dieta. Amém.

domingo, 14 de março de 2010

Nostalgia... Saudade conformada


As pessoas sempre confundem os sentimentos de nostalgia e saudade, pensam que é a mesma coisa. Não é. Nostalgia dói mais que saudade, mais que bater com a porta nos dedos, mais que cólica de rim. Nostalgia é como o fim do dia: a única saída é se conformar, já foi. Saudade a gente aguenta, inquietamente, e logo a gente cura.

Saudade a gente sente quando entra em um ônibus para ir embora, saudade da pessoa amada que fica, mas sabe que vai voltar a vê-la. Nostalgia é quando após alguns anos, você se lembra desse momento, que às vezes até se repete, mas não é a mesma coisa...
Saudade é quando o ser amado foi embora, mas o amor ainda ficou. Nostalgia é quando o amor também se foi...

Saudade a gente sente quando deixa os pais em casa e vai morar sozinho, em qualquer canto desse mundo. Nostalgia é quando a gente lembra de quando eles jogavam bola ou brincavam de boneca com a gente...
A gente sente saudade da vovó, que mora longe e cada vez que a visitamos ela aparece com um monte de comidas gostosas. Nostalgia é quando já não se tem a vovó, mas ainda sentimos o gostinho das guloseimas que ela fazia...

Saudade a gente tem de um amigo que se mudou para outra cidade ou país. Nostalgia é o que sentimos ao lembrar das brincadeiras de quando éramos crianças, e saber que agora quem brincam são seus filhos...
A gente sente saudade da nossa casa quando viaja e fica um tempo fora. E nostalgia quando a gente lembra de tudo o que viveu ali, na casa agora abandonada...
Saudade a gente pode ter de um brinquedo, de andar de bicicleta. Nostalgia é o que sentimos quando nos lembramos de como era simples e feliz nossa infância...

Temos saudade de sentar na varanda à tarde com nosso avô e ficar jogando conversa fora. E nostalgia quando o avô se vai, anoitece, e esse momento não se repete mais.
Sentimos saudade dos nossos cachorros quando passamos um fim de semana fora. Nostalgia, quando lembramos deles pulando na gente, mas só vemos a casinha que está vazia.

Saudade é um sentimento urgente, nostalgia não tem solução: a gente só se conforma. Saudade é a ausência provisória de alguém, nostalgia é a ausência eterna de um momento.
“Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença” – dizia Lispector. Então, nostalgia é quando toda a comida cessou...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010


Resposta ao meu amigo Leandro, que despejou em seu blog (separaprapensa.wordpress.com) toda a sua ira contra nós mulheres, seres tão plácidos e sentimentais...

Não é um manual de instruções, já que temos nossas peculiaridades, mas alguns comportamentos são universalmente explicáveis. E vocês, homens... entendem sobre economia, política, equações, matemática, tecnologia, mas desconhecem o comportamento e o coração feminino que é tão simples. Incrível!
Primeiramente, você disse que ia tentar não falar apenas sobre sexo. Por que mesmo? Mulheres pensam em sexo com a mesma compulsão que vocês, machões. A diferença é que não demonstramos isso, não lemos revistas pornográficas e não fazemos disso a principal conversa em uma mesa de bar.
Por que temos tantos sapatos? Bom, gostamos de ter opções, da mesma maneira que temos muitos vestidos e vocês tem muitas gravatas. Agora eu pergunto: Por que se interessam tanto por temas completamente desinteressantes, como marcas de carros, por exemplo?
E não vai se atrever a falar de TPM por quê? Uma coisa tão simples... São apenas 7 dias onde queremos estar longe de tudo e de todos. Você tem duas opções: se amarrar em um poste até a tempestade passar ou ir até a chocolateria mais próxima. E outra, é só uma vez por mês que ficamos exatamente como vocês são todos os dias!
Não generalize quando falar que toooodas as mulheres “amam” novelas. Eu não gosto! Mas mesmo que gostasse, tenho argumentos para isso: Novelas emocionam, e mulheres têm necessidade de “chorar por amor”, assistir filmes comoventes ou escrever romances. Somos sentimentais, delicadas, transparentes, diferentes de vocês que são impressionantemente corajosos diante dos insetos, mas não tem a mesma coragem para chorar no cinema!
E agora eu pergunto, por que gostam tanto de esportes? Para vocês o futebol de final de semana é tão importante quanto uma religião!
Quanto ao BBB, tenho certeza de que a maior audiência fica por conta dos telespectadores do sexo masculino, classe que vive orbitando ao redor do corpo feminino. Lá no BBB, sabemos que sobra mulher siliconada de biquíni!
(...) “E ficam querendo caras perfeitos, inteligentes, bonitos, ricos, dedicados… Mas saem com o primeiro descoladinho que aparece na frente de vocês (...) ” Logo, se saímos como o primeiro “descoladinho”, é porque conformamo-nos que este cara cheio de qualidades realmente não existe!
Não, não! O amor não é mesmo aquilo que te deixa sem ar (Ainda bem, pois se fosse, levaríamos ao pé da letra a expressão “morrer de amor”)... O fato é que dificilmente os homens entenderão o que é isso, visto que cada vez que dizemos “eu te amo” a um deles, sempre vão pedir para que a gente explique exatamente como.
Nós enjoamos das pessoas? Não, querido, nós enjoamos das AÇÕES de algumas pessoas... Como por exemplo, enjoamos de pedir pra vocês não jogarem a toalha molhada sobre a cama ou de pedir para abaixar a tampa do vaso sanitário... E sabe de uma coisa? Vocês são muito impacientes!
E não somos malvadas, nem vingativas, nem nada... Vocês que às vezes se acham espertalhões e capazes de nos “passar a perna”. Não se esqueçam que nós, mulheres, já nascemos detetives e aos nossos olhos todos os homens são suspeitos. E a gente acaba descobrindo tudo, tá? É só uma questão de tempo!
Como assim “Chega um dia em que querem casar”? Não, benhê, nem todas as mulheres querem ter filhos e um marido. Algumas desejam apenas animais de estimação e orgasmos sem compromisso...
"As mulheres existem para que as amemos, e não para que as compreendamos"
Oscar Wilde