quarta-feira, 28 de julho de 2010

O que restou...


O que ficou de você em mim,
Foi a presença da sua ausência,
As lembranças que o tempo não apagou...
O que ficou de você nesse apartamento,
Foram algumas roupas, que logo serão devolvidas,
Os seus livros, alguns dos quais serão meus,
Aqueles que compramos juntos...
O que ficou foi a falta do seu sorriso nas manhãs.
E suas palavras ecoando na memória...
O que sobrou foi o seu olhar,
impresso na minha mente em preto e branco...
E o que restou do amor,
Foram apenas algumas flores secas,
Guardadas em meio a um livro...
O que ficou foi a vontade do que não foi
E que poderia ter sido...
Ficou a saudade do primeiro encontro,
E o desejo de que ele não houvesse acontecido...
Restou o silêncio das palavras não ditas,
E as estrelas que colamos no teto do quarto,
Algumas caíram quando você se foi...
O que sobrou foram nossos retratos e,
Quando vi uma foto da gente feliz,
Custei a acreditar que fosse real...
Ficaram os nossos erros,
talvez algum indício de perdão...
E então,
Lembrei de que não me preparei
Para a sua vinda,
E nem pude prever sua partida...
E quando você se foi de vez
O que eu poderia fazer?
Ficar com o que restou...
E o que restou fui eu.
E um vazio...
Algumas palavras são apenas lágrimas que foram escritas...

domingo, 11 de julho de 2010

Fotografo porque...

... a ideia do fim me dói.

"De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória."

Observam e me perguntam por que sempre estou com minha máquina fotográfica. Meus amigos sentem-se, muitas vezes, incomodados por eu querer fotografar a todo o momento, principalmente quando os incluo entre as fotos. Alguns até se recusam. Explico.

Penso que tudo o que é belo deve ser imortal. Não suporto - tampouco aceito - a idéia do que é efêmero. Acho que os bons momentos devem ser eternizados. Talvez seja uma espécie de luta contra a morte.

Fotografo um pôr do sol, porque sei que ele nunca será o mesmo embora o sol renasça a cada dia. O céu é sempre belo, mas as nuvens transformam-se constantemente.
Fotografo uma flor, para que ela permaneça com suas cores vivas, mesmo após o tempo que envelhece, que seca, que mata.

Fotografo um sentimento – e sim, é possível fotografar sentimentos – para que continue vivo mesmo com sua efemeridade. Um sorriso, uma lágrima, um abraço. Olhares cheios de amor eternizados em fotos, mesmo que adormecidos dentro dos corações dos amantes. A felicidade que dura um pequeno instante.

Fotografo pessoas. Porque elas se vão, sempre. E fica essa lembrança, apenas.
Fotografo a chuva, a folha molhada, porque as gotas espalhadas uniformemente nunca cairão sobre a mesma superfície em semelhante disposição. É a arte da natureza, diferente a cada dia.
Fotografo momentos, porque também não se repetem com a mesma exatidão, nem com o mesmo sentido.

Fotografo a mim mesma, porque conheço a inexorabilidade do tempo e sei que ele trará inevitáveis rugas à minha face.
Fotografo um rio, pois quando tornar a vê-lo, as águas que correm por ele jamais serão as mesmas.

Fotografo monumentos, que o tempo e a chuva vão corroer, consumindo-os lentamente.
Fotografo as festas que vou. Ao rever as fotos posso ouvir as músicas na minha memória, relembrar de cada pessoa que fez parte da minha vida, mesmo que por apenas algumas horas.
Fotografo a primavera, o outono, o inverno, o verão. Uma eterna metamorfose cíclica. E não sei quantas voltas ainda poderei ver.

Desde que comprei minha primeira câmera, tenho minha vida eternizada. Meus amigos, embora reclamem. Meus amores, embora nem sempre seja tão bom recordá-los, sei que estarão lá, guardados, como prova de que um dia valeu a pena.

Entristeço quando um belo momento passa diante de meus olhos sem que eu tenha uma câmera em mãos. Pois além de querer compartilhá-lo, sei que não é seguro submetê-los apenas ao teste da memória. Porque com o tempo, ela enfraquece.

E quando eu me perguntar para onde foram os dias que eu vivi, a reposta estará em cada página dos álbuns que eu abrir.

Já dizia o poeta que “recordar é viver...”

domingo, 4 de julho de 2010

Na feira de domingo...



Hoje foi dia de feira aqui perto de casa. As feiras aqui em São Paulo se assemelham muito às do interior, exceto pela vastidão dos corredores. Marco presença quase todas as manhãs de domingo, quando consigo acordar sem que o despertador interrompa meus sonhos. Por isso aos finais de semana deixo a janela aberta: para despertar espontaneamente com os raios do sol.

Gosto de ir à feira para saborear os famosos pastéis de vento que, por sinal, aqui são muito bem recheados e trazem o gostinho da minha infância, gostinho familiar de "quero mais". Tanto que até esqueço que me encontro em um “mundo desconhecido”, sozinha em uma cidade gigante como essa, perdida entre tantos rostos.

Mas além dos pastéis, das vozes dos feirantes que se misturam, cada qual oferecendo sua melhor colheita, além da infinidade de cores, cheiros, sabores, além dos cachorros rodeando o “churrasquinho grego”, dos carrinhos atropelando meus pés e dos legumes pisoteados no chão, muita coisa desperta meu olhar curioso.

O vendedor de mel que enfrenta o medo das abelhas para poder oferecê-lo em pequenos gomos, a simpatia dos feirantes que nos abordam com um "bom dia" e nos oferecem o fruto de seus trabalhos, e que com certeza são os melhores publicitários que já conheci: “Olha a abobrinha baratinha, olha o morango fresquinho!” Também a esperança da vendedora de buquês de flores que acredita que levará um pouco mais de amor, sorrisos ou mesmo de reconciliação aos enamorados, e a alegria do vendedor de peixes que se diverte jogando pedrinhas de gelo em seu concorrente. Mas não, não há concorrência! Lá todos são amigos, unidos por um mesmo propósito.

Eu queria falar de todos, mas encerro com o vendedor de garapa que me chamou muito a atenção. Com esforço ele mói cada galho de cana, que aos poucos se transmuta em um líquido tão doce quanto mel. Como se estivesse moendo a rudeza e o amargor da vida para extrair a brandura de um viver adocicado. E em copos de 300 e 500ml acredita que pode espalhar um pouco mais de doçura por aí, a um preço que todos podem pagar... E espalha! Não apenas o sabor doce da cana, mas a ternura de palavras gentis, de um sorriso aberto a cada um que se aproxima de sua barraca.

Em dia de feira parece que tudo fica mais alegre e colorido, apesar da languidez do domingo. Que bom seria se, além de copos de garapa e gomos de mel, vendessem copos de ternura, potes de felicidade, doses de ânimo e pacotinhos de sorrisos. E como isso não é possível, sejamos então como o vendedor de garapa: façamos a nossa parte para adocicar um pouquinho a vida de cada um que cruza nosso caminho pelos corredores da vida!