
Eu estava entristecida há alguns dias, e nem sabia exatamente o porquê. Não chegava a ser pungente, mas uma tristezinha de papel fino, dessas que envolvem os nossos pensamentos. Você deve saber do que estou falando.
Acho que nossas angústias geralmente estão ligadas às perdas: nos apegamos demais às coisas, ao tempo, às pessoas. Esquecemos que as coisas se acabam, o tempo passa, e as pessoas se vão. E as pessoas que se vão, ah... Muitas vezes deixam marcas irreparáveis.
Em dias assim gosto de ir a lugares que me inspirem, para sentar, refletir, observar tudo a minha volta. Sempre fui uma dessas pessoas que gostam de olhar o pôr-do-sol, sentir o vento, a chuva, mas eu gostava de fazer isso com “ele”... Já dizia Drummond que de “mãos dadas” tudo pode ficar mais bonito.
Acredito que uma bela paisagem não tem muito sentido quando não pode ser compartilhada, talvez seja como possuir um belo quadro e guardá-lo dentro do armário, só para você mesmo vê-lo.
Mas eu não queria lembranças e sabia que enquanto não praticasse a "arte do desapego" e aprendesse a encantar-se com as pequenas coisas, ficaria impraticável atravessar os dias. Comecei então a procurar sorrisos, para descobrir o que fazia cada uma daquelas pessoas felizes.
Observei por um bom tempo uma mulher de aproximadamente 40 anos, que aprendia a andar de bicicleta. Ao errar e quase cair, ela sorria, meio sem jeito, talvez com vergonha das pessoas que caminhavam naquela travessa. Sua felicidade era quando conseguia pedalar alguns metros. E isso eu via no brilho dos olhos dela.
Uma criança descalça, na beira do rio. Olhava para os seus pés e divertia-se com a sensação do chão crescer macio sob eles... Não se importava em sujar a barra da calça, só queria ‘sentir’. Outra garotinha saboreava um algodão doce e, com uma olhar inocente, brincava com a leveza do açucar em forma de nuvem. Aliás, acho mesmo que as crianças sejam mais felizes que nós: são puras, podem enxergar a felicidade nas pequenas coisas, como alimentar os pombos ou soltar pipas.
E quanto a nós? Vamos depender de “outro” para contemplar o belo? Vamos esperar pelo “outro” para ser feliz? Esperar o inverno passar? Cada um pode encontrar, todos os dias, algo que desperte sorrisos. Parar para ver a Lua ou ouvir o som da chuva batendo nas folhas. Ler um bom livro embaixo de uma árvore. Escrever um livro. Plantar uma árvore. Você não precisa de alguém para fazer tudo isso.
Cultive agora mesmo a felicidade mais simples, incondicional, que há "aí dentro". Eu, por exemplo, fiquei feliz hoje ao encontrar raras flores de cerejeira. Elas são como os ipês: florescem no inverno, avesso às outras flores que ficam esperando pela Primavera...
